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quarta-feira, 13 de maio de 2020

ADEGA VAZIA - (Trilogia do Vinho)

Nos vidros quebrados de minha adega vazia
ondulações abertas trazem saudades úvidas
que vincam rugas só em mim bebidas
nesse néctar fruído, força de não ter força
delicia que repousa, fermentada
no teor do açúcar, na amargura da falta
pingando entre as safras do fruto
sobre a capa da lembrança do gozo
ninguém percebe e se embriaga
com os olhos encharcados de uvas
réstias de sumo nas unhas do vinheteiro
sustentadas sob parreirais a colmo
sustos da videira-versículo
que em milagre faz da água, vinho
sangue sagrado do Cristo que vinha
surpreender com o mais puro prodígio
purgando pústulas com o sangue dos cachos
no verde das vinhas, à casca do fruto
maduro, sob a pele dos dias
sob a crosta da sobriedade
emerge o inusitado sabor
de querer ser, da poesia, bicho bravo
e então deslembrar tudo
esvaindo-se o vinho e o verso
na imensidão escrita dos cacos.
                                                  Uili Bergammín Oz

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