P o e t a E s c r i t o r J. B A T I S T A

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P O E T I Z E M - S E

quinta-feira, 25 de maio de 2017

CANÇÃO LAVRADA

CANÇÃO LAVRADA

Aprumamos nosso retrato
com solidões e meandros
roça cultivada de esporas.
Nela estouram os figos
enquanto mastigamos o sol
e reunimos nossa mobília.

Por isso cresce devagar
a fala seus anzóis.
Cuspimos o tempo além
arado que nos lima fundo.

Perfilamos nosso garbo
entre ermos escuros.

O que sobra do suor
senão essa bruma retida
uma lenta amputação?

O que se espera do fardo
senão sua relhada na alma?
O que se espera?

E contudo nos vislumbramos.

                                    Ary Trentin

terça-feira, 16 de maio de 2017

QUANDO

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...
                                           Mário Quintana

terça-feira, 9 de maio de 2017

SOU

Imagístico e caminhado
nos olhos deste
ferido poema,

fragmentado e ofegante
nos olhos deste
ferido mundo,

letárgico e lúcido
nos olhos deste
ferido cais,

incorreto e corrigível
nos olhos deste
ferido tempo,

lendário e alegre
nos olhos desta
ferida penumbra

surdo e sanguíneo
nos olhos deste
ferido sonho.

Ary Trentin