CANÇÃO LAVRADA
com solidões e meandros
roça cultivada de esporas.
Nela estouram os figos
enquanto mastigamos o sol
e reunimos nossa mobília.
Por isso cresce devagar
a fala seus anzóis.
Cuspimos o tempo além
arado que nos lima fundo.
Perfilamos nosso garbo
entre ermos escuros.
O que sobra do suor
senão essa bruma retida
uma lenta amputação?
O que se espera do fardo
senão sua relhada na alma?
O que se espera?
E contudo nos vislumbramos.
Ary Trentin