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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

    Doces Ervilhas 

       Nona Inez tem diversas paixões e uma delas, sem dúvidas, é a horta. 

       Não é à toa que ela tem três. Quando lhe falamos "Nona, não precisa de todo esse trabalho

    compramos as verduras  no  mercado."  Ela  diz, justificando seus costumes, que a horta também

    ensina.

       Um dia, com cinco anos, encontrei-me pensando: "Como assim a horta ensina?"; olhei para  as

    plantas  e  tentava  decifrar  nelas  algum símbolo  estranho,  mas  não  achava  nada.  Por   isso,   

    calcei minhas botinhas galochas e, sozinha, fui percorrer o mato perto de casa.

        Cuidando para não resvalar nas rochas úmidas, observava pensativa tudo ao meu redor.

        As  diferentes  espécies  de  pássaros  cantavam  uma melodia indecifrável, porém admirável. 

       O chão era repleto de folhagens diversas e perguntava-me o que elas escondiam - animais 

     menores, flores distintas  ou  as  cobras  que  eu  tanto  temia?  Meus  pensamentos  foram 

     distanciados quando perdi o equilíbrio e meus pés tocaram a água,  a  água corrente!

         Se não me segurasse bem às margens, seria levada para  longe  e, em questão de segundos, me

     perderia para sempre. Enquanto o desespero tomava conta de mim, uma luz veio ao encontro da 

     minha face e uma pedra brilhante surgia ao longe, em meio a folhagem misteriosa da mata.

.        Inspirada a agarrá-la, salvei-me da corrente de água feroz, mesmo com as pernas encharcadas, 

      corri à luz e pensei: "Ah, não! É uma pedra comum, só  brilha  por que o  sol  reflete  nela!  

          Não é mística, rara ou cheia de ensinamentos visionários!"

          Decepcionada por não ter descoberto nada, voltava para casa ouvindo o mesmo som dos 

       pássaros e sem tanto medo da folhagem.

           Desviando os pensamentos de tristeza, cheguei à conclusão de  que  a   nona também tinha 

       visto uma pedra comum iluminada pelo sol, mas achava que era mágica, por isso entrou 

       naquela ideia de que a natureza ensina.

            Saí da floresta e avistei a nona colhendo ervilhas. 

            Corri ao seu encontro para lhe contar tudo que aconteceu.

            Valentina! O que foi? Suas pernas estão molhadas e desapareceu a tarde inteira! 

            - Disse ela.  Narrei a aventura como resposta e  contei  a  decepção.

            Com um sorriso compreensivo e uma vagem aberta nas mãos,  ela  me pergunta: 

        -Quais grãos são os seus preferidos?

             - Os pequenos, os mais doces!

             - Pois é, Val, não perca a doçura da imaginação da tua época.

             - Mas nona, eu quase me perdi...

              - Um dia você aprenderá a lidar com a doçura que tem. 

             Por enquanto, 

                                 pode me ajudar a debulhar as ervilhas. Vamos?

                                                                                                                   Valentina S. Sonda

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