Doces Ervilhas
Nona Inez tem diversas paixões e uma delas, sem dúvidas, é a horta.
Não é à toa que ela tem três. Quando lhe falamos "Nona, não precisa de todo esse trabalho
compramos as verduras no mercado." Ela diz, justificando seus costumes, que a horta também
ensina.
Um dia, com cinco anos, encontrei-me pensando: "Como assim a horta ensina?"; olhei para as
plantas e tentava decifrar nelas algum símbolo estranho, mas não achava nada. Por isso,
calcei minhas botinhas galochas e, sozinha, fui percorrer o mato perto de casa.
Cuidando para não resvalar nas rochas úmidas, observava pensativa tudo ao meu redor.
As diferentes espécies de pássaros cantavam uma melodia indecifrável, porém admirável.
O chão era repleto de folhagens diversas e perguntava-me o que elas escondiam - animais
menores, flores distintas ou as cobras que eu tanto temia? Meus pensamentos foram
distanciados quando perdi o equilíbrio e meus pés tocaram a água, a água corrente!
Se não me segurasse bem às margens, seria levada para longe e, em questão de segundos, me
perderia para sempre. Enquanto o desespero tomava conta de mim, uma luz veio ao encontro da
minha face e uma pedra brilhante surgia ao longe, em meio a folhagem misteriosa da mata.
. Inspirada a agarrá-la, salvei-me da corrente de água feroz, mesmo com as pernas encharcadas,
corri à luz e pensei: "Ah, não! É uma pedra comum, só brilha por que o sol reflete nela!
Não é mística, rara ou cheia de ensinamentos visionários!"
Decepcionada por não ter descoberto nada, voltava para casa ouvindo o mesmo som dos
pássaros e sem tanto medo da folhagem.
Desviando os pensamentos de tristeza, cheguei à conclusão de que a nona também tinha
visto uma pedra comum iluminada pelo sol, mas achava que era mágica, por isso entrou
naquela ideia de que a natureza ensina.
Saí da floresta e avistei a nona colhendo ervilhas.
Corri ao seu encontro para lhe contar tudo que aconteceu.
Valentina! O que foi? Suas pernas estão molhadas e desapareceu a tarde inteira!
- Disse ela. Narrei a aventura como resposta e contei a decepção.
Com um sorriso compreensivo e uma vagem aberta nas mãos, ela me pergunta:
-Quais grãos são os seus preferidos?
- Os pequenos, os mais doces!
- Pois é, Val, não perca a doçura da imaginação da tua época.
- Mas nona, eu quase me perdi...
- Um dia você aprenderá a lidar com a doçura que tem.
Por enquanto,
pode me ajudar a debulhar as ervilhas. Vamos?
Valentina S. Sonda
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