Paletó de Madeira
Ali, sentado na varanda
Com um amargo bem cevado,
O velho que já quase não anda,
Se sentia "estrupiado".
No rancho por ele cuidado
Os cavalos bem domados
As crias já tratadas
Nas lidas do dia a dia
Não se metia em galhardia
Muito cedo levantava
Sem perder a alçada
Depois de matear
E os bicharedos tratar
Uma cavalgada pra arrebanhar o gado
E alguns vender no mercado
Morava com a amada
Linda morena perfumada
Lhe ajudava nas lidas
Mas foi cedo sua partida
Faleceu, pois estava acamada
Lembrava o velho peão
Na noite lá no galpão
Ao pé do fogo de chão
Memórias dos bons tempos
Que andavam pela fazenda
Sem muito acreditar em lenda
Deitados na sombra da grande figueira
Trocavam carícias verdadeiras.
Daquele campo não sairia
Um dos filhos foi pra serraria
O outro foi pra cidade
Queria conhecer a verdade
Ser doutor de gente
Mas acabou virando tenente
No serviço militar
Poucas vezes vinha o pai visitar
Pobre velho largado
Sozinho, abandonado
Que cumpriu sua jornada
Desta vida nada mais restava
Esperava sua hora
De se juntar ao patrão do céu
Vestir seu paletó de madeira
E dar adeus ao rancho
De uma vida inteira.
Mas sua hora também chegou
E o velho assim partiu
Lembranças de uma estância
Que se apagou na memória
Mas ficará sempre na história.
J.Batista
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