P o e t a E s c r i t o r J. B A T I S T A

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P O E T I Z E M - S E

quarta-feira, 18 de junho de 2025

 ENTRE SILÊNCIOS


No pátio velho o pai caminha lento

seu passo raso desenha a lembrança,

do tempo moço resta o sentimento

mas hoje é o filho quem leva a esperança.

Pisaram juntos sonhos tão diversos

em estradas que o tempo desenhou,

o pai traz versos gastos quase inversos

ao som da nova rima que chegou.

A mão que já guiou arado e destino

hoje treme a cuia ao tentar erguer,

mas tem no gesto antigo e cristalino

na força a saudade do bem-quer.

De outrora, o pai foi verbo e direção

com olhos cheios de mapas e certeza,

hoje sesteia à sombra do galpão

junto ao seu filho ouvindo a natureza.

Não há lição mais funda que esse instante

em que o silêncio pesa como chão,

o pai que já foi um grande gigante

agora é sombra leve na amplidão.

Seguem olhando ao longe, e vão calados

costurando o tempo em passos diferentes,

um leva os dias lentos e curvados

o outro aprende com silêncios ausentes.

ALBERTO SALES

sexta-feira, 6 de junho de 2025







                    
                                                                           
                    
A gota, pequena, perfeita
beija o fundo do Chemex
como se soubesse
que ali começa um ritual.
Não há pressa no milagre.
A água escorre pelo filtro,
silenciosa e paciente,
como quem compreende
que a perfeição
jamais se apressa.
Para alguns, um detalhe.
Um clique. Um instante.
Mas ali mora a essência:
o calor preciso,
o aroma que desperta,
o ouro líquido em formação.
É arte que flui,
é ciência com coração,
é o café se revelando
na sua mais pura expressão.
Gota por gota,
silêncio por silêncio,
brota o sabor da verdade
o café perfeito
não se faz
se extrai.

 Fran Dal Monte




 

quinta-feira, 5 de junho de 2025

 

No Meio do Caminho


No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

                 CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE 

 

 

quarta-feira, 28 de maio de 2025

 O Mar  no Inverno 


Na praia o vento sopra devagar

Mas o frio começa a incomodar 

As ondas quebram com som salgado

Num mar  cinzento e agitado.


Areia fria sob meu pé 

O sol escondido, tímido 

O céu nublado no tom da maré 

Trazendo ao corpo um arrepio úmido 


Cadê o verão de calor e festa?

Agora até a gaivota protesta

O coqueiro dança em desatino

Temendo que, este tempo, mude o seu destino,


Mesmo assim, há certa beleza,

Na solidão e na natureza.

O frio na praia  tem seu encanto...

Silêncio...brisa...e um leve pranto.

                          Rosângela Hambsc

sexta-feira, 23 de maio de 2025

 Maré Serena


Envelhecer, sim, mas não se apagar,

feito sol que se deita, mas sempre embriaga.

Rugas dançam no rosto, traços do tempo,

memórias bordadas no sopro do vento.


Já não corre como antes, mas sabe o caminho,

não precisa de pressa, só de carinho.

Seus olhos, agora, veem mais do que viam 

o que vale é a calma das coisas que cree.


Sonha com a casa de janelas abertas,

onde o mar sussurra promessas discretas.

Ali, entre conchas e tardes douradas,

deixaria as dores nas ondas levadas.


O sal em seus cabelos seria coroa,

a liberdade, enfim, sua única pessoa.

Envelhecer perto do mar, que desejo sereno —

ser inteira, tranquila, sem peso, sem veneno.

Rosângela Hambsc

quarta-feira, 7 de maio de 2025

quarta-feira, 30 de abril de 2025

 O POETA


O poeta está presente

Quando descreve o sol poente.

Muitas vezes ao sol poente

O poeta não está presente.


O poeta mente

Ao escrever aquilo que sente.

Muitas vezes o poeta sente

Ao escrever aquilo que mente.


O poeta é como gente.

De vez em quando, friamente,

Se irrita, certamente,

Escrevendo o que vem na mente.


O poeta, inicialmente

Vai à nascente

E constantemente

Chega aos finalmente.


O poeta é gente

Que como todos mente

Escreve o que sente

Quando não está presente.


                                       J.Batista