ENTRE SILÊNCIOS
No pátio velho o pai caminha lento
seu passo raso desenha a lembrança,
do tempo moço resta o sentimento
mas hoje é o filho quem leva a esperança.
Pisaram juntos sonhos tão diversos
em estradas que o tempo desenhou,
o pai traz versos gastos quase inversos
ao som da nova rima que chegou.
A mão que já guiou arado e destino
hoje treme a cuia ao tentar erguer,
mas tem no gesto antigo e cristalino
na força a saudade do bem-quer.
De outrora, o pai foi verbo e direção
com olhos cheios de mapas e certeza,
hoje sesteia à sombra do galpão
junto ao seu filho ouvindo a natureza.
Não há lição mais funda que esse instante
em que o silêncio pesa como chão,
o pai que já foi um grande gigante
agora é sombra leve na amplidão.
Seguem olhando ao longe, e vão calados
costurando o tempo em passos diferentes,
um leva os dias lentos e curvados
o outro aprende com silêncios ausentes.
ALBERTO SALES
Poeta/Escritor Batista, agradeço pela sensibilidade em postar este meu humilde decassílabo. Um fraterno abraço!
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